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Dizer que é ruim não basta

Quem grita não quer ser ouvido: a liderança político-empresarial de Cascavel e o desafio de se afastar da bolha estéril desprovida de neurônios

Dizer que é ruim não basta

Há quem diga que vivemos uma crise qualitativa na liderança política e empresarial em Cascavel. É sério, faz sentido? Talvez fosse preciso recorrer a um cientista político para validar essa tese. Não é o caso do autor destas linhas, mas é possível, com alguma pretensão, apontar alguns sintomas.

Em eventos empresariais relevantes, como do último dia 22, no Tuiuti, promovido pela Fiep, observam-se discursos embalados na retórica polarizante contra o governo federal.

É natural e até desejável que essas críticas sejam pontuadas e muitas delas fazem sentido, embora estejam dirigidas para uma plateia de convertidos à causa, algo como “chover no molhado”.

Vamos aos efeitos colaterais indesejáveis:

a) quando a liderança desenha no discurso o apocalipse político e econômico (muitas vezes vocalizado por oportunistas com interesses eleitorais), assumimos o risco de “assustar o dinheiro”, inibir investimentos;

b) quando a liderança se auto-concede a capacidade de diagnosticar o paciente sem apontar a medicação e o tratamento, deixamos a conversa pela metade e nos nivelamos aos criticados. OK, os juros estão altos para conter a inflação; no lugar do Haddad, o que (e principalmente como) eu faria diferente? Por que razão essa questão não está contemplada no discurso da oposição?


XIAOMI DO TAXISTA

O contraponto é desejável e necessário, mas precisa qualificar o argumento, até porque a aplicação de alguns fantasmas, como o anti-comunismo e o terraplanismo, já mostraram que são eficazes em alguns setores, mas insuficientes para ganhar a eleição.

Em um raciocínio temerário por raso, pense em um eleitor típico da direita, o taxista ou o motorista de aplicativo. Até quando o fantasma da bandeira vermelha vai funcionar para ele que ganha a vida em um sofisticado carro elétrico chinês com um celular Xiaomi espetado no painel?

Olhando mais perto, a bandeira de um ícone da extrema direita, Donald Trump, é vermelha também. E o agricultor, base firme da oposição, que vende toda sua produção para o comunista Xi Jinping, vai continuar assustado com um pedaço de pano colorado?


CHAVÕES DA BOLHA

Quem é oposição hoje esteve na situação, recentemente. E se restou algum senso crítico, percebeu que bravatas e motociatas tomaram o tempo das reformas fundamentais que deveriam ser feitas. Para ficar em um único exemplo caro à direita liberal, a privatização dos Correios. 

Dar palco, aplaudir e idolatrar aloprados é tiro no pé. Se a direita acredita que tem um projeto melhor do que está aí, precisa sair da gritaria e dos chavões que pedem pouca análise e escassos neurônios e partir para a elaboração de alternativas exequíveis, planejadas e mensuráveis. Do contrário estará somente repetindo aquilo do que acusou a esquerda de fazer no governo Bolsonaro: torcendo para o “quanto pior melhor” e discursando para bolhas de “catequizados”.


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