Soja líquida, terra de ouro
A explosão do preço das terras nas bordas do perímetro urbano expandido de Cascavel e a régua da soja como balizador da moeda

Nunca precisou tanta soja para comprar um alqueire nas áreas rurais localizadas nas franjas do perímetro urbano de Cascavel. Não se acha mais terra no entorno da cidade por menos de R$ 1 mil o metro quadrado. Para adquirir um alqueire, é preciso “casear” 18,6 mil sacas da oleaginosa.
Mas por que a soja aparece nessa conta? Historicamente, soja é moeda por aqui, lastreia negócios, dá garantia para financiamento, balisa preços. E por que tanta soja para adquirir um naco de terra em Cascavel? Menos porque o preço está ruim a R$ 128 a saca, mais porque realmente os preços da terra explodiram com a expansão do perímetro urbano.
Entretanto, diferente do imobilizado, soja é líquida, é dinheiro na mão. O jornal “Estadão” de São Paulo trouxe um estudo da evolução da cultura por município desde 1974 até a safra 2023/24.
Cascavel produzia 136 mil toneladas/ano na primeira metade dos anos 1970. Atingiu um pico da montanha em 2020, com 423 mil toneladas, e chegou agora ao platô, na última safra, com 294 mil toneladas.
Comercializada a preços de hoje, R$ 2,1 mil a tonelada, a cultura de soja injeta mais de R$ 630 milhões na economia local, grande parte disso paga em moeda forte, exportada para o país da bandeira vermelha.
Parte dessa grana vai para o sistema financeiro, outra para impostos, mas um quinhão multimilionário vira camionete, terrenos em condomínios, apartamentos nos espigões, e mansões no “litoral” de Cascavel, Boa Vista da Aparecida.
CASCAVEL LIDERA
Prospectando os números do “Estadão”, Cascavel com quase 300 mil toneladas é a incontestável capital oestina da soja, seguida por Assis Chateaubriand (249 mil toneladas), Toledo (230 mil), Terra Rocha (144) e Palotina (141).
A maior produção está nos Campos Gerais, no eixo Guarapuava-Tibagi, que somadas colheram 734 mil toneladas de soja.
Nos anos 1980, quando a soja deu nome ao clássico entre Cascavel e Toledo no futebol, colhíamos aqui, somando os dois municípios, 505 mil toneladas.
A “cobra” leva vantagem sobre o “porco” pelo tamanho do território: Cascavel tem mais de 2 mil quilômetros quadrados, quase o dobro do vizinho.
GIGANTE DO NORTE
Embora relevantes, todos esses números ficam relativizados quando comparados ao grande produtor nacional de soja, o Mato Grosso. Se fosse um país, seria o 3º maior produtor de soja do planeta, atrás apenas do Brasil e dos EUA, e maior que a Argentina.
Bem no centro do mapa matogrossense, está o município campeão: Sorriso colheu 2,2 milhões de toneladas de soja na última safra. Aqui tamanho é documento: cabem 4 cascavéis e meia dentro de Sorriso. Empresas aqui da região atuam lá, como a C.Vale.
.Outro município campeão na oleaginosa é São Desidério, no Oeste da Bahia, com mais de 2 milhões de toneladas. Um dos grandes produtores de soja lá é Arnaldo Curioni, que contribui na estatística com 2,4 mil toneladas de produção anual.
Tem cascavelense também no terceiro município do ranking da soja, Pedro Muffato, em Sapezal (MT). “Colhi a melhor safra da história, com 81 sacas por hectares”, informa o piloto, que cultiva 3,5 mil hectares de soja lá, em área já misturada com o perímetro urbano da cidade. A família Scanagatta também é grande produtora no município top 3 do Mato Grosso, Campo Novo do Parecis.
- Em tempo: Toledo não é a campeã paranaense em Valor Bruto de Produção em 12 anos consecutivos por obra do acaso. Ninguém no Paraná produz mais milho que a vizinha, 525 mil toneladas/ano. Boa parte do milho fica por ali mesmo, na “panceta” do gigantesco plantel suíno, composto de 900 mil cabeças. Em Toledo, são 5,7 suínos para cada sapiens.
PITACO DO PITOCO
- Embora boa parte da soja e do milho produzidos aqui na região se convertam em proteína animal, alimentando gigantescos planteis de aves e suínos, há um excedente.
- Transformar o excedente em dólares, exportando para o comunista Xi Jinping não é mau negócio.
- Porém, agregar valor com a produção de biocombustíveis, como já faz a C.Vale com a soja e fará em breve a Coamo com o milho, poderá ser ainda melhor.