Quando os pais envelhecem
Ver os pais envelhecerem é uma das experiências mais intensas e mesmo desafiantes da vida adulta

Envelhecer é um processo natural — sabemos disso. Mas quando esse envelhecimento acontece diante dos nossos olhos, nos rostos e nos gestos daqueles que nos criaram, o impacto é profundo. Ver nossos pais envelhecendo pode, sim, despertar um sentimento parecido com o luto: estamos nos despedindo, pouco a pouco, da versão jovem deles. Essa foi uma reflexão que ouvi de uma psicóloga, e confesso, me fez parar e pensar.
Desde então, passei a observar com mais atenção como tenho vivido essa transição com os meus pais. E hoje, gostaria de te convidar a fazer o mesmo. Como tem sido para você enxergar o envelhecimento dos seus — ou até o seu próprio? Tem doído? Tem surpreendido? Tem ensinado?
Quero compartilhar um pouco sobre o envelhecimento da minha mãe. E começo dizendo, com todo o coração: eu amo a versão idosa da minha mãe.
Claro, não é perfeita. Há dias em que me preocupo tanto que tenho vontade de inverter os papéis, colocá-la de castigo e dizer: “Agora é você quem vai me escutar!”. Mas, brincadeiras à parte, sei que essa fase exige muito de nós. Traz desafios, adaptações e, principalmente, nos confronta com a ideia da finitude.
Mesmo assim, minha mãe continua sendo uma professora — talvez a mais sábia de todas. E, como toda boa mestra, ela ensina com o exemplo. Com seus acertos e, sim, também com seus erros.
Admiro profundamente a leveza com que ela lida com a vida. Sua capacidade de mudar quando necessário, de se adaptar quando as circunstâncias exigem. Às vezes, ela até se abate, mas logo se recompõe, com otimismo e até bom humor.
Seus conselhos vêm sempre carregados de amor — não são impositivos nem manipuladores. São orientações cheias de empatia e compaixão. Aliás, desde pequena, ela nos ensinou o valor de ajudar o outro. Posso afirmar, sem medo: ela foi minha primeira professora sobre como se deve amar uma pessoa idosa.
Sua alegria em estar com os netos também me inspira. Com seus acertos e falhas, foi conquistando o coração dos meus filhos — e para eles, assim como para mim, ela também é uma professora da vida.
E, acima de tudo, admiro sua fé. Uma fé que, na infância, já era visível e inspiradora — uma relação íntima com Deus. Agora, na velhice, essa fé se tornou ainda mais forte, mais profunda, mais segura. Ela nos mostra que é possível envelhecer sem precisar controlar tudo, porque confia plenamente em um amor firme, inseparável. E isso, para mim, é uma das maiores lições: ter uma fé viva, que acolhe e sustenta.
Se você está vivendo o envelhecimento dos seus pais — ou já viveu — talvez reconheça algo dessa experiência. Talvez, como eu, também esteja sendo transformado por ela.
No fim das contas, viver o envelhecimento de quem amamos não é apenas um processo natural. É uma oportunidade rara de aprender com quem mais nos ensinou a viver.
A autora é especialista em Gerontologia, palestrante sobre longevidade e cuidados gerontológicos, proprietária do Residencial Sênior Balsamo Gileade.