
Tilápia no cardápio da “cobra”
Área tida como a mais promissora para cultivo de peixes se abre para a expansão da Coopavel Cooperativa Agroindustrial na piscicultura

Cascavel irá subtrair o título de “Capital da Tilápia” de nossa vizinha Nova Aurora? Não é bem disso que se trata, mas as perspectivas são promissoras desde o momento em que a Coopavel adquiriu o frigorífico da família Marmentini, há seis meses.
A ampliação de capacidade já está dada. A meta de curto prazo, segundo presidente da cooperativa, Dilvo Grolli, é dobrar a produção dos atuais 20 mil peixes processados por dia para 40 mil e em seguida levar esse número para os almejados 80 mil.
“Vamos investir nas adequações do frigorífico para incluir a tilápia na pauta de exportações da cooperativa, canal pelo qual enviamos nossos produtos para mais de 50 países”, disse o presidente.
Matéria-prima para a expansão não falta, há até um excedente de oferta no mercado. O tradicional frigorífico chega ao controle da cooperativa com mais de 80 produtores parceiros. Já estão nos açudes 1,5 milhão de peixes. E o terreno para “semear” tilápias não poderia ser melhor.
Basta uma olhada no Google Maps no território que começa na periferia Sul de Cascavel até as barrancas do Rio Iguaçu, abarcando os municípios de Boa Vista da Aparecida, Capitão Leônidas Marques, Lindoeste e Santa Tereza. O Google mostra áreas generosamente irrigadas pelos tributários da bacia do Iguaçu, compostos ali pelos rios São José, Cascavel, Andrada, São Salvador e Rio do Salto, entre outros corpos hídricos.
Soma-se à fartura de H2O o perfil fundiário da região, 74% composto de mini e pequenas propriedades, recorte ideal para cavar açudes e obter novos integrados. Afinal, destinando apenas um hectare, o produtor pode “colher” mais de 60 mil peixes.
LÍDER NACIONAL
A Copacol foi pioneira no sistema integrado de piscicultura no Brasil, iniciando a atividade em 2008, com a Unidade Industrial de Peixes de Nova Aurora. Em seguida a C.Vale ingressou para a pescaria, seguida agora pela Lar e a Coopavel.
O ingresso das gigantes do Oeste na atividade levou o Paraná à liderança nacional na produção de peixes de cultivo, com uma “colheita” superior a 250 mil toneladas em 2024. Grolli vislumbra ganhos para toda a economia oestina a partir da diversificação. Para ele, os riscos atinentes à monocultura da soja, ciclo prevalente nos anos 1970, foram superados pela introdução da cultura de milho, que estimulou a expansão agroindustrializada da avicultura e suinocultura, agregando valor aos grãos.
Ele explica que processar tilápia em grande escala pede expertise diferenciada, mas que está assimilada na região. “Do frango e do suíno aproveita-se de 74 a 75% do peso total, já da tilápia pouco mais de 30%, cerca de 300 gramas de filé, o restante será farinha para alimentar outros animais’, diferencia Grolli.
A propósito, a Coopavel já prepara um novo investimento: R$ 150 milhões na nova fábrica de rações para peixes. O que era lambari, virou baleia, animal topo da cadeia alimentar. Bom apetite!
PITACO DO PITOCO
- Cascavel e seus mais de 2 mil quilômetros quadrados de território, confluência de raro encontro de três grandes bacias hidrográficas (Piquiri, Iguaçu e Paraná), cravejado de pequenas propriedades e gente vocacionada para a atividade, pode ser tornar uma potência da piscicultura.
- O desafio colocado é bem conhecido, não reside na oferta e nem na demanda. O ponto a ser superado é a escassez de recursos humanos.
- Frigoríficos são intensivos em mão de obra, o da Coopavel, ainda girando em pequena escala, já assina a carteira de 120. Não há um robô que extraia o filé da tilápia, são mãos sapiens que fazem o serviço.
- Um em cada quatro “fichados” pela Coopavel são estrangeiros, com predominância de haitianos e venezuelanos.
- Curioso é ter que torcer para que o Maduro continue mandando mal em Caracas, sob o risco de um apagão no frigorífico e outro no checkout do supermercado daqui.
- Afora isso, o tempo está propício para pescarias nas vastas pradarias minifundiárias ao Sul de Cascavel até as barrancas do valente Iguaçu, o rio da energia e das Cataratas.