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 Ao sapateiro da rua Visconde 

Nélci Peripolli

 

Sentado no velho banco de madeira 

Entre o emaranhado de calçados ,bolsas, sacolas 

Caixas, cintos e prateleiras 

Quase não se distingue o sapateiro da rua Visconde 

Dentro de sua encantadora oficina caseira! 

-Debruçado sobre o tempo, 

Vives a história e o momento... 

Enquanto, de forma artesanal, 

Usando de sua técnica tradicional 

Te esmeras 

Como se quisesses consertar o mundo 

-Humanizas o bruto material! 

Seguras com tuas mãos o couro, 

medes, riscas, cortas e furas 

Sapatos, botas, bolsas, carteiras, 

Colas, lixas, prensas e costuras... 

Idealizando um artefato duradouro. 

Findas as peças: 

-São suas obras de ouro! 

Trabalhas quietinho, discreto, com as mãos! 

Constróis na tua oficina uma conexão 

Recicla o passado usando o martelo, 

Pé-de-ferro, agulhas e fios 

Tens, no presente, o teu maior desafio ! 

Autêntico ato , cada sapato 

-O artefato é a poesia de tuas mãos! 

Cantas para teu filho 

A canção do secular exercício 

Legando a arte e a paciência 

Para dar seguimento 

ao teu respeitado ofício! 

Tens tua oficina no coração... 

-Não dependes da máquina, mas da paixão! 

Tendo nas mãos exatas a lida , 

Tens, na vida, a certeza 

De que em cada peça que faz, 

conserta ou renova , 

Alimentas o segredo da vida! 

Artesão do próprio caminho, 

Proteges os pés do mundo 

Para um caminho sem dor... 

Sabes que a todos os pés, só há um caminho: 

-O da liberdade e do amor!

 

(Nélci é  pintora, artesã e poeta)

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