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IA em Cascavel e Toledo

“Estamos na era da pedra lascada da IA, mas o futuro chega em 1.200 dias”

Pitoco: Onde dispomos de curso de Inteligência Artificial na região Oeste?

ChatGPT: Dispomos de cursos de IA em Cascavel, na FAG, e em Toledo no Biopark Educação.

A presente reportagem poderia terminar por aqui, na consulta simulada ao ChatGPT, plataforma que pôs a IA em todas as pautas, mas o assunto é bem mais abrangente.

O mês de março foi pródigo em anúncios nesta área. A pró-reitora administrativa do Centro Universitário FAG, Jaqueline Gurgacz, lançou oficialmente no último dia 7 o bacharelado em Inteligência Artificial. E na semana seguinte foi a vez do presidente do Biopark, Victor Donaduzzi, anunciar o curso em Toledo.

“A inauguração deste curso pioneiro não apenas fortalece a posição da instituição como um centro de excelência em educação e pesquisa em tecnologia no Paraná, mas também promove a inovação e o desenvolvimento econômico na região”, disse Jaqueline.

“Os graduados neste curso estarão preparados para enfrentar os desafios complexos do mercado de trabalho global, enquanto contribuirão para impulsionar a transformação digital e a competitividade do estado em um cenário cada vez mais orientado pela tecnologia”, analisa o diretor de inovação da FAG, Mark Reginatto.

APAGÃO DE TI NO RH

O curso surge como resposta à crescente demanda por profissionais altamente qualificados em Tecnologia da Informação (TI). No Brasil, a escassez de talentos é evidenciada por estudos da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). O levantamento revela que, até o ano de 2024, só no Brasil, haverá mais de 420 mil oportunidades para profissionais especializados em Tecnologia da Informação (TI). No entanto, apenas 46 mil profissionais são formados nesse campo anualmente.

Para Leonardo Tampelini, coordenador do curso de IA do Biopark Educação, apesar do curso pertencer ao campo de tecnologia, a graduação em IA permite atuação em qualquer segmento. 

Isso porque, com o foco em automatização de processos e produtividade, além de tomada de decisão, a Inteligência Artificial é necessária em todos os setores. “Todas as empresas, de qualquer segmento, farmacêutico, automobilístico, educação, precisarão de especialistas em Inteligência Artificial para ajudar no levantamento de dados, na automatização dos processos, na sistematização, na Internet das Coisas etc.”, afirma Tampelini.

O Portal BrazilJournal entrevistou o cientista-chefe da TDS.Company e professor emérito da Universidade Federal de Pernambuco, Silvio Meira. O cientista cravou um “puta que o pariu” (expressão dele), ao afirmar que em pouco mais de mil dias, a inteligência artificial atingirá outra escala de complexidade. Acompanhe os principais trechos da entrevista:

BrazilJournal - Qual tem sido a reação mais recorrente das pessoas à inteligência artificial?

Susto combinado com histeria. De fora da área de computação, todo mundo achando que houve um big bang. Mas para quem acompanha de perto, esse assunto está sendo falado pelo menos nos últimos 20 anos. O que estava faltando era talvez o que a gente pudesse chamar de cola, do ponto de vista científico. Como se fosse uma amarração. Computação já estava nas empresas desde a década de 50 e do ponto de vista da sociedade em geral ela passou 45 anos escondida. Quando que a computação aparece para as pessoas? Em 1995. Por quê? Porque publicou-se o código na internet. A internet não é um ambiente de comunicação. Ela é um ambiente de conectividade, que habilita você a publicar código na internet. Muitos algoritmos ao mesmo tempo. 

Aí surge o ChatGPT, dando uma cara para isso…

E aí o que a gente viu em 2022 foi a publicação de Inteligência Artificial online que levou ao sistema de informação que teve mais rápido 100 milhões de usuários em toda a história do universo. 100 milhões de pessoas fazendo sabe o quê? Treinando um sistema de informação. Vou dizer de novo, não é usando esse sistema. É treinando. E de graça. E depois você mandou as pessoas pagarem para treinar um sistema que vai ser usado depois. Nós estamos numa espécie de idade da pedra lascada da computação inteligente.

Não parece tão primitivo assim. 

Vou fazer um paralelo com a escrita. O que a gente conhece como alfabeto, não com hieróglifos e coisas parecidas, tem 3.500 anos. E depois evoluiu para a Linear B. Entre a linear B, em 1.500 antes de Cristo, e Platão demorou 1.200 anos. Mas entre a Inteligência Artificial online e o equivalente a um Platão contemporâneo, vai levar algo como 1.200 dias. Não é 1.200 meses nem 1.200 semanas. É 1.200 dias!

A que ponto chegamos…

Estamos chegando num ponto onde eu posso chegar para uma inteligência artificial e dizer, “faça uma teoria para mim, para isso, para esse cenário aqui e faça uma teoria que serve para esse tipo de objetivo.” E ela faz. Entendeu? Isso é uma coisa que não se esperava que estivesse acontecendo agora e aí sim, tem uma surpresa, até para o pessoal da área. Que conhece esse assunto há muito tempo. Tem um ‘puta que pariu’ aqui.

Mas temos a questão dos erros, das alucinações. Isso vai acabar então?

Os erros não vão acabar e justamente eles vão criar um conjunto muito grande de oportunidades para evolução. A gente nunca vai ter um modelo capaz de entender um universo como um todo, isso é computacionalmente impossível. Não tem essa história de vamos fazer um troço que entende o mundo todinho e nos diz a resposta para o sentido da vida. Mas vai fazer com que a gente continue evoluindo em larga escala e numa velocidade que talvez a gente nunca tenha visto. 

Isso está acontecendo com o Gemini, do Google? 

O ChatGPT saiu tão na frente e saiu tão do nada que ninguém esperava que aquilo acontecesse. O que aconteceu é que a Microsoft pulou direto na oportunidade, foi lá e botou US$ 10 bilhões em um movimento defensivo. Só para a gente lembrar, lá no começo, a Microsoft fez a mesma coisa com o Facebook, ela olhou assim e pensou eu nunca vou fazer isso então eu vou entrar aqui. Ela comprou uma cláusula de bloquear investimentos de outros. Ninguém pode comprar Facebook porque a Microsoft não deixaria, ela tem uma opção de compra para ela mesmo. E ela fez a mesma coisa com a OpenAI.

E o Google nesta história?

O que aconteceu com Google, Facebook, Apple? Eles têm que lançar alguma coisa. No caso do Google, isso é ainda mais dramático porque muda o seu modelo de negócio. Imagina você e eu fazendo a seguinte pergunta: Me explica a história das línguas escritas. O Google me responde com 50.000 links. O ChatGPT me explica a história das línguas escritas em uma resposta. 

Em que ponto estamos na sua escala de evolução da IA? 

Nós estamos alguma coisa como 400 dias depois do ponto de partida. E ainda estamos confundindo um bocado de coisa, a começar pelo que é inteligência humana. Até bem pouco tempo, tínhamos duas dimensões dessa inteligência da sociedade: a inteligência de cada um de nós e a inteligência social, que é a inteligência dos grupos ou de rede de pessoas. E aí vem a inteligência artificial. Ela não é uma tecnologia. Ela não é uma plataforma. Ela é uma nova dimensão da inteligência, e eu acho que as pessoas estão se perdendo aqui ao achar que tem uma ferramenta em que você bota os processos como eles já existem.

A IA vai devorar todo o conhecimento humano disponível, exatamente para disponibilizá-lo, é isso?

Vamos ter o equivalente, por exemplo, a toda a literatura em língua portuguesa, tudo o que os jornais já publicaram, tudo que já foi feito em português no mundo inteiro vai estar disponível no interface conversacional para você elaborar coisas com ela. No médio prazo, nós estamos falando de 2040, vai haver modelos que lidam com trilhões de tokens por interação. Esses modelos vão começar a fazer completamente sozinhos os modelos de mundo. E na medida em que o mundo for mudando ao redor deles, eles vão estendendo não probabilisticamente, ou seja, eles não vão chutar as respostas com uma certa probabilidade, eles vão mudar as regras, eles próprios, para entender o que é esse novo mundo que está lá fora.

E como as empresas estão lidando?

As empresas tendem a simplificar dramaticamente a IA e começam a ter uns problemas não triviais. Quer ver um? O chatbot habilitado por Inteligência Artificial da Air Canada. Ele foi colocado online para tirar pessoas da frente de atendimento e reduzir custos de atendimento 24 horas. O que fez o chatbot? Pariu, do nada, uma política de reembolso para um cliente. E o cliente exigiu o cumprimento. A causa foi parar na Justiça e a Air Canada alegou que foi um erro de sistema. A Justiça disse que não tem nada de erro de sistema, que a empresa botou o robô no ar e tinha que pagar ao cliente, de acordo com a política de reembolso que o chatbot criou. 

Em que contexto as empresas vão usar a IA?

A gente vai começar a usar a inteligência artificial para criar mercados de uma pessoa. Eu vou conseguir capturar tanta informação sobre a pessoa e manter essa informação coerente com um discurso interativo, que eventualmente cada pessoa poderá ser tratada como um mercado de propósito específico. Não haverá mais categorias “professores universitários que têm 70 anos”. Vai ter a categoria Silvio Meira. E o tipo de atendimento que eu vou ter é totalmente diferente do tipo de atendimento que outro professor de computação – que também tem 70 anos e mora no Recife no mesmo bairro que eu – vai ter.