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A decolagem da Bella

A cascavelense Isabella é a primeira, e por anos a única mulher piloto e instrutora de drone do Brasil: “Lugar de mulher é onde ela quiser”

Uma jovem mulher na roça com um dispositivo digital em mãos manipulando um objeto voador. Se esta cena fosse vista no Brasil rural de algumas décadas atrás talvez o agricultor chamasse a polícia ou “faria justiça com as próprias mãos” mirando a espingarda no OVNI que zumbia sobre sua plantação. 

Mas vivemos em outra era e o tal OVNI seria rapidamente identificado como um drone para aplicação de defensivos agrícolas. O que continua diferente nesta cena é o gênero da operadora. A jovem é Isabella Junges Rosa, engenheira agrônoma cascavelense radicada em Joinville.

Ela convive com este “estranhamento” desde 2020 quando graduou-se na Unioeste e tornou-se a primeira brasileira piloto e instrutora de drone adaptado para ações no agro e passou a incorporar a equipe da Agridrones Solutions (ADS), empresa líder no segmento. 

Exatamente por entender que gênero não é determinante para operar uma máquina destas, Bella, como é conhecida no círculo familiar mais íntimo, entende que é preciso provocar a mulherada a aderir as novas tecnologias ofertadas aos agricultores

Assim nasceu, pelas mãos dela, o projeto “Mulheres que Voam”, voltado para elas “que estão a frente do seu tempo, são revolucionárias e possuem senso crítico, atitude, coragem para inovar, criar e empreender”.

Na entrevista a seguir, Isabella detalha o projeto que convoca a mulherada a roteirizar seu plano de voo próprio:

Há quanto tempo você pilota drones?

Isabella - Desde 2020, colei grau em março daquele ano, em agosto mudei para o interior do Rio Grande do Sul para trabalhar na antiga Drone Solutions (empresa originária da ADS) que na época tinha o foco de prestação de serviço de pulverização com drones.

Foi difícil? Outras gerações , mais maduras, terão a mesma facilidade de aprendizagem que você?

O processo de aprendizagem de algo novo, independente da geração, exige dedicação, estudo e paciência. No processo de aprendizagem do drone gostamos de separar em duas áreas: a parte agro e a parte do equipamento em si. Foi na primeira que tive maior dificuldade, porque não possuía a vivência do dia a dia na lavoura. Para área do drone, nós temos um curso que ensina todos os processos para pilotar o equipamento com instrutores treinados e que falam a “língua” do produtor para facilitar no aprendizado. Mas qualquer pessoa pode aprender a pilotar o drone, desde que se dedique ao processo de aprendizagem.

Qual o principal ganho para o produtor no uso desta tecnologia?

Quando falamos de drones de pulverização e os seus benefícios, 99% das vezes se fala no não amassamento, que é a sua principal vantagem. Mas eu gosto de ressaltar outros benefícios como a redução em 90% da utilização de água quando se compara com pulverizações convencionais. Janelas de aplicações com os drones são maiores, logo após a chuva é possível realizar o processo de pulverização, não sendo necessário esperar o solo secar, facilidade no transporte é uma outra vantagem que também gosto de lembrar, entre outras.

Como as pessoas reagem ao ver uma mulher operando um dispositivo disruptivo na roça como o drone? 

Algumas pessoas ficam encantadas, outras assustadas, outras impressionadas. O número de mulheres atuando no agro vem crescendo consideravelmente nos últimos anos, mas ainda temos muito trabalho a ser feito para alcançarmos a equidade de gênero. Objetivo que vamos alcançar com muito trabalho, competência e seriedade.

Como surgiu o projeto “Mulheres que Voam”? 

A ideia surgiu da necessidade de falar de drones com outras mulheres. Ao longo desses 3 anos, praticamente conversei sobre esta ferramenta com homens e eu queria ter a oportunidade de falar sobre o equipamento e os desafios do uso com outras mulheres. Então a ideia do projeto é conectar as mulheres que já usam os drones e incentivar outras mulheres a se capacitar para se tornar pilotos de drone.

A mulher agricultora pode assumir mais protagonismo no agro?

Não só pode como deve. O agro precisa de mais mulheres protagonistas! Elas são mais cuidadosas, detalhistas, carinhosas, essas são soft skills necessárias para algumas funções que desenvolvemos. 

Que ações estão programadas no escopo do mulheres que voam?

Primeiramente vamos convidar as colaboradoras que fazem parte do time da ADS para participarem do projeto, depois disso as clientes ADS, criando assim um grupo/rede de apoio onde iremos compartilhar conhecimentos, experiências vividas e etc. Também vamos realizar ações externas para ser apoio e inspiração para que novas mulheres entrem no mundo dos drones, através de palestras regionais e outras ações de marketing visando conectar, criar laços e sermos apoio e inspiração umas para as outras. 

 

Ela é a número 1

  • Quem vê a cascavelense Isabela Junges pilotando um drone não imagina o simbolismo no entorno da imagem. Isso porque ela é a primeira instrutora de pilotagem de drones habilitada DJI no Brasil
  • Um marco para Isabela e uma revolução no meio. A tenra idade também surpreende, aos 26 anos está inserida em um mercado majoritariamente masculino. E mais que isso: ensinando homens a operar drones.
  • A agrônoma de formação ingressou na empresa como estagiária, em um momento em que o próprio mercado de drones ainda dava seus primeiros voos.
  • Para ela a tecnologia anuncia o futuro do agro, sem recorte de gênero: “é muito gratifcante ver a presença feminina crescendo no agro e abrindo portas para outras mulheres em posições que antes eram delegadas somente para homens”, comenta.