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Floresta verticalizada

Dizer que o periférico e pobre Jardim Floresta dos anos 1980 teria prédios residenciais seria piada de papagaio, ave que nomina a Avenida Brasil da Porção Norte

Dona Ana Azevedo dos Santos, mineira, foi uma das primeiras moradoras do Jardim Floresta, conjunto de 1.140 casas populares na Porção Oeste de Cascavel. Ela dá a dimensão do que era morar ali 42 anos atrás. “Acordava 5 de manhã para me juntar a um grupo de mulheres e seguir a pé até a garagem da Princesa dos Campos para lavar ônibus”, disse.

Do Floresta à Princesa, são 6 quilômetros. O depoimento dela está na dissertação do mestrando Maicon Mariano, da Universidade Estadual de Santa Catarina.

Mariano esquadrinhou em seu mestrado três novos aglomerados urbanos formados em Cascavel entre as décadas de 1970/80: Guarujá (1976); Parque Verde (1978) e Floresta (81). O que o acadêmico viu naquela desolada Porção Norte de Cascavel quase duas décadas atrás, quando apresentou seu mestrado, nada faz lembrar em que se tornou um raio de 15 quilômetros no entorno do Floresta.

Quinta-feira, 26 de outubro de 2023
– Cerca de 500 pessoas se aglomeram na Papagaios, a “Avenida Brasil” do Floresta. Ali o empresário Natuani Costa e o artilheiro Paulinho Cascavel recebem corretores e clientes para iniciar – acreditem – a verticalização do Floresta.

Sim, a dupla apresentou ao mercado o Floresta Residence, um conjunto de quatro torres com 240 apartamentos. A rua que recebe o empreendimento tornou-se uma dinâmica avenida comercial abrigando nomes como Muffato Max, Irani, Imobiliária
Cidade, Construcal, Sicoob e Sicredi, entre outras menos votadas. Dona Ana, aquela das longas caminhadas, se pudesse ver a via hoje, exclamaria: “Papagaios!”.

MUFATTO: “LOTEEI MESMO”
Foi na gestão Pedro Muffato, na primeira metade dos anos 1970, que o perímetro urbano de Cascavel transbordou para além da rodovia 467.

Ouvido pelo Pitoco, ele justificou a ação que contrariava um parecer do então jovem arquiteto Jaime Lerner, contratado para desenhar o plano diretor que seria apresentado em 1978. “Eu liberei os loteamentos na região Norte mesmo. Terrenos no centro e bairros centrais custavam uma fortuna. Os novos loteamentos deram um choque de oferta, vendidos em até 70 meses, acessíveis para as famílias mais humildes”, disse Muffato.

A justificativa dele ficou muito parecida com o argumento usado pelo prefeito Paranhos, recentemente, para realizar a maior expansão do perímetro urbano da história. E ambos os alcaides acabam dando sentido para uma frase cunhada por Lerner, o urbanista mais premiado do Brasil depois de Oscar Niemayer: “O que se poderia classificar como exemplos de uma boa acupuntura urbana? Em alguns casos, as intervenções se dão mais por necessidade que por desejo, para recuperar feridas que o próprio homem produziu”, disse Lerner.

BOLA NA REDE

Antes que este debate faça voar verdes penas de papagaios nos céus da Porção Norte de Cascavel, vale voltar para o Floresta Residence: o Natu, da Schneider & Costa, escalou como parceiro no empreendimento o “camisa 9” Paulinho Cascavel, da Bacinello Construtora.

Olhando para a vasta torcida que compõe o Floresta (10 mil almas) mais o entorno (51 mil moradores na região norte, maior que 364 municípios do Paraná), Paulinho percebeu a bola quicando e bombou para o fundo da rede. Não era piada de papagaio. Era o início da verticalização do Floresta.

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