
Do milho vem o bilhão
Coamo já tem as licenças para iniciar a primeira biorefinaria de etanol de milho do Paraná: a planta vai produzir 765 mil litros por dia, ração, óleo e energia elétrica; o eclético milho, espécie de “frango sem asas”, já é protagonista também entre os biocombustíveis

É possível intuir o destino que as grandes receptadoras do milho produzido no Oeste do Paraná concedem ao grão da cor do ouro: C.Vale, Lar, Copacol, Coopavel e Frimesa, entre outras, colocam o milho moído nos bicos e bocas de milhões de aves, suínos, bovinos e tilápias. “A espiga de milho é um frango sem asas”, costuma dizer o engenheiro agrônomo Jorge Miguel Samek, em analogia à transformação do grão em proteína animal.
Não é pouco milho. A safra 2024/25 colhida no Oeste baterá um novo recorde histórico, chegando a 18,1 milhões de toneladas. Também não é pouco bico. O Oeste e suas 6,2 mil granjas abatem 2,2 milhões de frangos por dia. Até meados de 2026, a maior parcela do milho colhido irá para ração animal e uma fração disso para exportação. Ressalte-se, até 2026.
A maior cooperativa da América Latina tem outros planos para as milhões de toneladas de milho que recebe anualmente da segunda metade do próximo ano adiante. A Coamo, cuja sede se vizinha de “parede e meia” com o Oeste do Paraná, em Campo Mourão, e que possui forte atuação aqui na região, pôs R$ 1,7 bilhão na mesa para dar outra destinação ao grão: a produção de etanol.
No último dia 14 de maio, a cooperativa recebeu as licenças para iniciar a primeira usina de etanol a partir do milho do Paraná. Entendendo o tamanho da notícia, o governador Ratinho Júnior foi pessoalmente a Campo Mourão entregar o licenciamento. Não é pouca coisa: serão processadas 1,7 milhão de toneladas/dia, gerando 765 mil litros de etanol a cada 24 horas.
Usinas assim também produzem DDGS, um subproduto transformado em ração (serão 510 toneladas/dia na usina da Coamo) óleo de milho (34 toneladas/dia) e até energia elétrica suficiente para atender toda a planta de etanol (30 megawatts).
Com a planta operacional, o faturamento global da Coamo deverá ultrapassar os R$ 30 bilhões anuais já em 2026. É o milho que vira bilhão, agregando valor a uma commodity muito abundante: são estimadas 128,2 milhões de toneladas na safra 2024/25 no Brasil.
Já há 24 usinas de etanol de milho em operação, com forte presença no Centro-Oeste do País. Um em cada quatro litros de etanol consumido no Brasil já vem do milho. Faz todo sentido econômico e social entre as opções avaliadas aqui: colocar o milho in natura do Mato Grosso - produto de baixo valor agregado - em uma carroceria de caminhão para atravessar o país de oeste a leste pelas esburacadas rodovias brasileiras até os portos e remeter baratinho para a China…
...ou industrializar no local em que se produz, gerando etanol, ração, óleo e energia elétrica?
PITACO DO PITOCO
- Diferente do estardalhaço da BYD na Bahia, passou quase despercebida a chegada dos chineses da montadora Geely à região metropolitana de Curitiba.
- Eles se associaram a Renault e vão produzir ali um veículo híbrido com extensor de autonomia pequeno e eficiente, movido a etanol da Coamo e energia elétrica, capaz alcançar uma autonomia de 2 mil quilômetros.
- O milho é a planta mais eclética do universo. A espiga ainda verde era boneca nas mãos de meninas de outras infâncias, produz uma infinidade de diferentes pratos na gastronomia, alimenta bilhões de sapiens e outros animais. E não existe festa junina sem milho!
- Movimenta frotas gigantescas, gerando 1/3 do CO2 da gasolina - emissão eliminada pelo sequestro do carbono nos milharais. Com o perdão do trocadilho, só pamonha para não entender o papel estratégico dos biocombustíveis na soberania energética brasileira.
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