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Reportagem de capa

Católica perde 30 mil fiéis aqui

Apesar da queda, igreja de Roma é amplamente majoritária em Cascavel; rebanho evangélico cresce menos que o estimado. Saiba qual é a cidade mais protestante do Oeste

Católica perde 30 mil fiéis aqui

O Censo do IBGE vem extratificando gradualmente os resultados obtidos em 2022. No levantamento nacional, a Igreja Católica aparece com o menor índice histórico: 57%. Ainda assim, é uma vantagem de 30 pontos percentuais sobre o rebanho evangélico, que está em quase 27%.

Em perspectiva, o avanço protestante foi notável, já que no primeiro levantamento a respeito, realizado em 1872, os católicos eram 99% da população. Por outro lado, o crescimento no segmento evangélico perdeu tração agora. Vinha sendo de 6% nos últimos recenseamentos, agora ficou em 5,2%.

Com base nessa evolução, a “ultrapassagem” dos pastores sobre os padres, prevista para 2032, agora – se ocorrer – levará quase duas décadas segundo o demógrafo José Eustáquio Alves.

Em Cascavel a supremacia católica é mais acentuada, 64,2% declararam seguir a igreja de Roma. Os evangélicos são 24,9%, crescimento de 4,5% na comparação com o Censo anterior, de 2010. 

Em números absolutos, com base na estimativa do IBGE para 2025, somos 364 mil cascavelenses. Nos percentuais apurados pelo Censo, são 233 mil católicos e 90 mil evangélicos.  

Se estivesse mantida a proporção do Censo anterior (72,38% de católicos), os “romanos” seriam hoje 263 mil. Daí que se pode estimar uma perda de 30 mil fiéis em números absolutos em uma década e meia. Já os evangélicos, “atualizando a tabela”, ganharam 15,5 mil ovelhas no período. 

As demais religiões são bem minoritárias em Cascavel. Umbanda e candomblé subiram para 0,3%, espírita caiu para 1,2%. Os que declararam não seguir nenhuma das religiões subiram de 4 para 6,1%, acompanhando uma tendência nacional de alta nesse recorte.

SANTA EVANGÉLICA A cidade tem nome de santa, mas é a mais evangélica da região: Nova Santa Rosa, município de pouco mais de 8 mil almas desmembrada da “Alemanha do Oeste”, Marechal Cândido Rondon, tem 58% da população declarada evangélica no Censo do IBGE. Os católicos são 38,5%. Nem Pomerode (SC), considerada a cidade mais germânica do Brasil, supera Nova Santa Rosa nesse quesito

O fenômeno se deve à colonização alemã que trouxe em seu bojo a devoção aos princípios do monge Martinho Lutero, fundador da corrente evangélica luterana. No país de origem dos luteranos, no entanto, o “rebanho desgarrado” é o que mais cresce: 47% dos alemães não seguem religião nenhuma, 23% são católicos e 21% protestantes (fonte: Wikipedia). 

Cascavel é menos católica que Toledo (74,6%) e mais “romana” que Foz do Iguaçu (51%), Guaíra apresenta forte crescimento evangélico (quase 40%) e Curitiba, em consonância com a média nacional, põe 30 pontos percentuais de diferença pró católicos.


Com a palavra, o pastor e o padre

O Pitoco convidou representantes das correntes religiosas majoritárias para comentar os números recentes do IBGE. O pastor Gilvano Souza, presidente da Opevel, e o padre Divo de Conto trazem aqui suas percepções.


NAÇÃO DE FÉ DIVERSA

Gilvano Souza - presidente da Ordem dos Pastores de Cascavel

Os números divulgados pelo Censo 2022 não são apenas estatísticas. Eles nos ajudam a perceber os movimentos espirituais do nosso tempo. O dado de que os católicos agora são 56,7% da população e os evangélicos somam 26,9% mostra que o Brasil continua sendo uma nação de fé, mas que essa fé está se expressando de formas mais diversas. Como pastor, vejo nisso um convite ao cuidado pastoral e ao testemunho autêntico. O crescimento evangélico não deve ser motivo de orgulho numérico, mas de responsabilidade. Precisamos nos perguntar: estamos sendo sal da terra e luz do mundo? Estamos acolhendo com amor, ensinando com fidelidade e vivendo o evangelho com integridade?

Isso nos desafia a apresentar um cristianismo vivo, relacional e transformador, que fale ao coração das pessoas em meio às angústias do nosso tempo.

A fé é um crescente compromisso que nos inspira a viver com mais empatia, diálogo e compromisso com o Reino de Deus, lembrando que os números mudam, mas o nosso chamado permanece: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.


CATOLICISMO REVITALIZADO

Padre Divo de Conto – Pároco da Catedral

A queda do número de católicos foi menor do que a esperada, enquanto a expansão do protestantismo ocorreu de forma também mais lenta do que se previa

Projeções anteriores indicavam que, em 2032, o protestantismo alcançaria o número de católicos. No entanto, considerando o ritmo de crescimento dos evangélicos registrado no último censo, essa equivalência só deverá ocorrer em 2049. Essa mudança pode indicar duas possibilidades: ou o protestantismo está se consolidando e atingindo seu limite de crescimento, ou o catolicismo estaria passando por um processo de revitalização. 

Minha convicção é que a segunda hipótese é a mais plausível. Nos últimos 15 anos, o Brasil tem testemunhado um expressivo movimento de reevangelização católica, impulsionado especialmente pelo poder das mídias sociais, onde padres e leigos vêm se engajando ativamente na internet, e por uma evangelização mais personalizada e de inspiração catecumenal. 

Por outro lado, o protestantismo enfrenta uma crise significativa, alimentada pelo avanço do neopentecostalismo, pela flexibilização de princípios morais tradicionais e pelo apelo excessivamente voltado ao aspecto financeiro e emocional. Esse cenário revela uma transformação profunda nas dinâmicas religiosas do país, com importantes implicações para o futuro.


PITACO DO PITOCO

  • Demógrafos que se debruçaram sobre os números do IBGE apontam hipóteses sobre a queda menor que a estimada inicialmente do rebanho católico. Para alguns deles, o carisma do Papa Francisco e sua origem na América do Sul teve papel nessa contenção.
  • Já para a redução na velocidade de crescimento dos evangélicos, os demógrafos citam um conjunto de possibilidades, incluindo a transformação de púlpitos em palanques eleitorais, com pastores militantes partidarizando as denominações.
  • Vale destacar: em Cascavel a composição da Câmara não reflete a proporção de cada rebanho. São dois evangélicos apenas (Cidão e Alécio), e 13 vereadores na Pastoral Política da Igreja Católica.

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