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Ministro ‘linguarudo’ é nome de rua central

Salgado Filho deu com a lingua nos dentes e gerou ataque nazista na costa brasileira resultando em mais de 600 óbitos; Cascavel “derrubou” dois governadores e Pio XII foi carimbado na capa de livro como “O Papa de Hitler”

Ministro ‘linguarudo’ é nome de rua central

A Rua Salgado Filho que vem de um fundo de vale do Parque São Paulo até o alto do Bairro Canadá, cruzando a Avenida Brasil no centro de Cascavel, rende homenagem ao primeiro ministro da Aeronáutica: o gaúcho de Porto Alegre Joaquim Pedro Salgado Filho, que hoje dá nome ao aeroporto da capital.


Quando ele ocupava o cargo, no governo Getúlio Vargas, o planeta era sacudido pela Segunda Guerra. O presidente Vargas tentava ficar bem com todos, tanto com o regime nazista, com quem flertou, como com os “donos do quintal” latino americano, os Estados Unidos da América. A palavra era “neutralidade”.


Foi quando Salgado Filho deu com a língua nos dentes. Disse que a Força Aérea Brasileira (FAB), recém-constituída, havia bombardeado submarinos alemães no Atlântico. A revelação de Salgado custou caro.

Como as comunicações eram ainda precárias, os nazistas levaram o “garganteio” como verdade. “Ninguém que produzisse hostilidades contra a Alemanha ficaria impune, era a regra estabelecida”, explicou ao canal DW o professor de História da UFPR, Denisson de Oliveira.


Foi quando submarinos alemães atacaram embarcações na costa brasileira, resultando em mais de 30 naufrágios que geraram entre 600 e mil óbitos.


LOBO NAZISTA

O submarino alemão U-199, apelidado de Lobo Cinzento, aterrorizava a costa Nordeste do Brasil com seus torpedos certeiros.


Em 31 de julho de 1943, durante um voo de rotina, o aspirante da FAB, Alberto Martins Torres, pilotava um hidroavião PBY-5 no litoral do Rio de Janeiro quando avistou o “Lobo”. Torres bombardeou o submarino que foi a pique. Na sequência, em gentileza rara naquele conflito sangrento, Torres retornou ao local do “abate”, a 87 km do Pão de Açucar, e lançou um bote inflável para os tripulantes. 


Dos 61 militares alemães a bordo, 12 sobreviveram, entre eles o comandante, Hans- -Werner Kraus (1915-1990). “Eles foram salvos por um navio norte-americano e, depois de passarem por uma prisão no Recife, foram enviados aos Estados Unidos”, pontua a FAB.


Apesar da façanha, o “doce aspirante Torres não se tornou nome de rua em Cascavel, e sim o “linguarudo” Salgado.  


Em tempo: Em 30 de abril último, fez 80 anos do suicídio de Adolf Hitler. E no último 8 maio, oito décadas da rendição alemã na Segunda Guerra Mundial.


PLACAS DELETADAS

Recorrendo à memória prodigiosa do pioneiro Beto Pompeu é possível aferir que as placas mudaram de nome várias vezes em Cascavel, a ponto de “derrubar” dois governadores. “A rua 7 de Setembro se chamava Moises Lupion, que foi governador do Paraná. A rua Governador Bento Munhoz da Rocha também desapareceu, dando lugar à rua Pio XII”, recorda-se Pompeu.


E não foram as únicas mudanças, a Avenida Foz do Iguaçu passou a nominar-se Tancredo Neves, a Travessa Willy Barth virou Jarlindo Grando e a rua João Pessoa agora é Presidente Kennedy.


“O PAPA DE HITLER”

O Papa Pio XII, que nomina rua quase vizinha ao “linguarudo” Salgado Filho em Cascavel, teve uma posição complexa em relação ao nazismo. Apesar de não ter realizado uma condenação pública e explícita do regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial, ele teria tomado várias medidas secretas para ajudar os judeus e os opositores ao regime.


Diz-se que Pio XII manteve ligações com a Resistência Alemã, atuando como mediador entre eles e os Aliados. No entanto, o pesquisador britânico John Cornwell rejeita essa tese e garante que há poucas evidências para sustentá-la. “Não há dúvida de que muitos católicos - padres, freiras e fiéis - em toda a Europa ocupada salvaram muitos judeus, mas acho escandaloso que o Vaticano afirme que isso aconteceu graças às instruções do Papa”, disse à BBC News o autor do polêmico livro “O Papa de Hitler”.


PITACO DO PITOCO

  • É curioso tentar entender qual foi a ordem pela qual se estabeleceu nomes de ruas paralelas à Avenida Brasil.
  • A principal artéria da cidade levar o nome do país parece óbvio, porém as primeiras paralelas não seguem uma ordem entendível. A rua Paraná, ao lado da Brasil, faz sentido, é nosso estado. Mas Pernambuco na sequência, ou Mato Grosso, não faz.
  • No lado oposto da Brasil, rua Rio Grande do Sul está OK, é de onde vieram muitos dos fundadores da cidade. Mas São Paulo e Rio de Janeiro antes de Santa Catarina, quebra essa lógica de pioneiros.
  • A ordem é mais aleatória que lógica, embora cada um dos cariocas, paulistas, matogrossenses e pernambucanos que aqui aportaram mereçam alusão a seus estados.